Aquele gol que eu escrevi #03
Terceira edição de uma newsletter sobre gols e outras coisas mais
Assim como fiz na segunda edição, começo agradecendo a todos os leitores que chegaram até a newsletter! A partir dos comentários que recebi sobre os primeiros textos já surgiram ideias para novas escritas de gols, que em breve estarão no ar!
Dessa vez agradeço em especial a sugestão de gol dada pelo grande amigo e antigo leitor Ivan Bilheiro, que será contemplada em uma edição futura! Ele reparou também, com atenção, um volume baixo no áudio da segunda edição, ponto que espero ter melhorado.
Outro retorno que muito me alegrou foi do Rodrigo Casarin, da Página Cinco. Através de uma nota que fiz aqui mesmo no Substack comentando sobre o livro dele, “A biblioteca no fim do túnel - Um leitor em seu tempo”, ele chegou até a minha newsletter e me lembrou que ainda existem redes sociais nas quais de fato há um contato entre leitores e não apenas um determinismo algorítmico…
E lá vamos nós para a terceira edição!
A falta que a falta faz
Houve um tempo em que a falta era algo muito certeiro no futebol.
Eu sei porque talvez tenha vivido os suspiros finais desse tempo, mas sei mais por conta de relatos, vídeos e sentimentos que foram transmitidos e chegaram até o nosso tempo, aquele em que muitas vezes a falta é só… uma falta.
Sempre que penso em gols de falta, a primeira lembrança que vem à mente é a deste golaço de Roberto Carlos em 1997 pela Seleção Brasileira contra a França, em jogo válido pelo Torneio da França, uma competição preparatória para a Copa do Mundo do ano seguinte.
Naquele momento ninguém poderia cravar que pouco mais de trezentos e sessenta cinco dias depois os mesmos adversários estariam se enfrentando na final do maior torneio de futebol do mundo, no Stade de France, em Paris. O resultado da final, todos nós conhecemos, por isso não vou me alongar nesse assunto. Voltemos à falta.
Conhecidíssimo pela potência dos seus chutes, pelo vigor físico e pela enorme força ofensiva (quem nunca escalou Roberto Carlos no ataque no saudoso Winning Eleven que atire a primeira pedra), o lateral que começou a carreira no hoje esquecido União São João de Araras logo se destacou a nível nacional pelo galácteo Palmeiras dos anos 90, rumou para a Europa, onde passou primeiro pela Inter de Milão e depois se consolidou no galáctico (agora sim!) Real Madrid do começo dos anos 2000.
Paralelamente a essa vitoriosa carreira nos clubes, Roberto Carlos, desde mais ou menos 1997 também passou a ser figurinha carimbada nas convocações da Seleção Brasileira e é difícil encontrar alguém da minha geração, ainda que não goste muito de futebol, que não tenha ouvido falar sobre esse lateral.
Roberto Carlos ia muito além das faltas e parece que quanto mais o tempo passa, mais saudosos os torcedores brasileiros ficam deste lateral e de todas as gerações anteriores que vestiram a camiseta canarinho.
Só que para além da decepção generalizada com a atual Seleção Brasileira, que chega a ter até a classificação para a Copa do Mundo de 2026 questionada, em virtude do péssimo desempenho que vem tendo nas Eliminatórias, a saudade vem também das faltas, daqueles momentos de tensão e quase silêncio que antecedem a batida, daquela expectativa de ver a bola chegar lá “onde a coruja dorme”, como diziam os antigos narradores.
Extrapolando os sentidos mais simplórios da palavra, tendo a me recusar a aceitar que uma falta é só uma falta. As faltas nos fazem pensar, olhar por outros ângulos, sofrer e sentir também, fazer com que a gente procure ir além do óbvio. Reconhecer uma falta pode ser um caminho para caçar outras saídas; experimentar, criar, curvar linhas retas que às vezes insistem em fazer morada dentro da nossa cabeça. E é sempre bom entortar o nosso pensamento da mesma forma que Roberto Carlos conseguiu entortar a direção daquela bola em 97.
Depois de esgotar o tempo regulamentar…
Na pesquisa para a escrita do texto de hoje, encontrei esse ótimo texto do Felipe Lobo, no site da Trivela, que traz até explicações científicas sobre o gol.
Para conhecer um pouco mais sobre a carreira do Roberto Carlos é inevitável não lembrar também da edição 266 do podcast “Meu Time de Botão”, dedicado a um período específico da carreira do lateral no qual ele foi cogitado até como melhor do mundo:
Por fim, preferi não falar muito sobre a final da Copa de 98 neste texto, já que fugiria um pouco do tema, mas imaginei uma versão alternativa para essa final em outro texto, que foi selecionado para a coletânea “E se…”, da Editora Campo ou Bola.
O meu texto, intitulado “Para sobreviver e lutar por ela” (esse título foi descaradamente retirado de um dos versos da “Allez, allez, allez”, canção de Ricky Martin, tema da Copa de 98), e vários outros textos que imaginam finais outros para grandes momentos do futebol foram reunidos nessa coletânea que está com uma campanha de financiamento coletivo aberta. Para quem puder e quiser ajudar, fica o link.
Por hoje é só.
Fica aquele apelo de sempre: leia, curta, comente, compartilhe, assine… Todo esse processo que ajuda bastante nesse universo virtual!
R.
Minha maior lembrança de cobrança de falta da finada seleção brasileira é a do Ronaldinho Gaúcho contra a Inglaterra na Copa de 2002. Aquilo foi doideira! Pós jogo na quadra do bairro com o dia já quase amanhecendo e a molecada tentando imitar a cobrança do Bruxo.
Valeu, Rogério! E o gol mais doloroso da minha vida nasceu de uma falta.