Neste sábado estou em trânsito, passando alguns dias no meu amado Sul de Minas por ótimos motivos: celebrar a vida e a união de amigos queridos!
Vir pra cá é sempre uma forma de me reconectar às origens, relembrar histórias e me atentar mais para as desimportâncias que às vezes passam batidas pelas nossas vidas.
O texto de hoje fala um pouco sobre isso.
Vamos a ele!
Desimportâncias olímpicas
Gol olímpico é uma expressão utilizada no futebol para se referir a gols que são feitos diretamente a partir de uma cobrança de escanteio, isto é, quando a bola, após o chute lá da distante marca de escanteio, entra diretamente no gol, sem a interferência de nenhum outro jogador.
Um gol como esse do Marcelinho Paraíba. Jogador que teve uma carreira de muito sucesso, tanto no Brasil, por onde passou por diversos times, dos menores aos maiores, quanto na Alemanha, onde virou ídolo de um dos times da capital, o Hertha Berlim.
Eu penso que tudo o que é associado ao adjetivo olímpico carrega consigo, já de cara, uma certa grandiosidade e importância. Também pudera. As Olimpíadas da chamada Era Moderna, que começaram no ano de 1896 em Atenas, são repletas de histórias de superação, recordes e mais recordes, uma doação e um respeito ao esporte no seu mais alto grau.
Dá pra dizer também que além disso, as Olimpíadas transcendem o esporte e acabam chegando aos mais variados públicos, despertando interesses e sentimentos que geralmente ficam esquecidos a cada quatro anos (ou a cada olimpíada, pois este termo designa, também, esse período de tempo entre uma edição e outra dos Jogos Olímpicos).
Como neste ano de 2024 tivemos mais uma edição dos Jogos, em Paris, acredito que deve estar fresco na memória de todos os leitores como foi bom conhecer modalidades com as quais não temos praticamente nenhuma familiaridade, como foi bom torcer e se emocionar com Bia Ferreira e o primeiro ouro brasileiro desta edição, como foi bom ver a icônica foto do pódio da prova de solo da ginástica, quando as estadunidenses Simone Biles e Jordan Chiles reverenciaram, merecidamente, a maior medalhista brasileira de todos os tempos, Rebeca Andrade.
Só que se voltarmos a nossa atenção para o gol de hoje, talvez seja difícil enxergar toda essa grandiosidade e opulência que quase sempre é associada a tudo o que é olímpico. Por ter pesquisado eu sei que esse gol foi o segundo do Coritiba, que naquele momento ia vencendo o São Paulo por 2 x 1. Só que mais tarde Washington Coração Valente, ídolo de São Paulo e Fluminense, iria empatar o jogo e seria só isso mesmo: uma partida de 28ª rodada de Campeonato Brasileiro, do ano de 2009, disputada num dia 7 de outubro no Morumbi.
O São Paulo sequer viria a ser campeão deste campeonato (que acabou ficando com o Flamengo, graças ao gol escrito na segunda edição desta newsletter). O Coritiba, por sua vez, seria rebaixado para a segunda divisão naquela edição, ficando um pontinho atrás do Fluminense, que escapou da Série B depois de uma fantástica arrancada na reta final da competição. Ou seja, nada de muito olímpico ou especial nesse gol.
A lembrança dele veio então justamente pela sua desimportância e me fez pensar em quantos e quantos detalhes, acontecimentos e gols podem passar batido por nós se não olharmos com atenção. Muitas vezes precisamos parar para reparar, porque senão a beleza da coisa se esvai. É meio estranho e inesperado o movimento que a bola faz nesse gol. Não é o gol olímpico grandão, bonito, com uma curva bem feita e com a bola morrendo lá no ângulo do outro lado. Ainda assim é um gol olímpico, ainda assim é bola na rede. Ainda assim é.
A aparente desimportância também ganha outro sentido se lemos a declaração dada pelo próprio autor do gol, Marcelinho Paraíba. Em 2009 ele já caminhava para o fim da sua carreira e disse para o jornal Gazeta do Povo:
“Esse gol vai para minha família e meu filho, que tinha me pedido um gol hoje. A gente sempre tenta bater fechado para que alguém antecipe na frente do goleiro. Mas a intenção é fazer ela entrar direto. Hoje aconteceu e é meu primeiro gol olímpico, mais especial ainda por ser em um goleiro como o Rogério Ceni”.
Seja na grandiloquência olímpica, seja nas pequeninas desimportâncias, que sigamos atentos para a surpresa, porque como diria Gil: mistério sempre há de pintar por aí.
Depois de esgotar o tempo regulamentar…
Neste breve texto disponível no site das Olimpíadas dá pra conhecer a origem da expressão “gol olímpico” (spoiler: o primeiro gol olímpico não foi feito em uma edição de Olimpíadas).
Por hoje é só.
Fica aquele apelo de sempre: leia, curta, comente, compartilhe, assine… Todo esse processo que ajuda bastante nesse universo virtual!
R.