A primeira edição de outubro da newsletter chega (bem cedinho dessa vez.. rs) e com ela o primeiro gol de um time europeu por aqui.
Com novos inscritos chegando, reforço o convite e a abertura para que todos os leitores fiquem à vontade para sugerir gols, times, jogadores que gostariam de ver aparecer na “Aquele gol que eu escrevi”. Meus gostos pessoais naturalmente vão sobressaindo, mas fazer o exercício de falar sobre gols e times não tão queridos por mim pode ser bem desafiador também!
Hoje, sigo dentro de uma certa “zona de conforto” e dedico esta edição a todos que conviveram comigo na época em que morei no oitavo andar da Alameda Winston Churchill.
Vamos pra mais um gol!
No chá das cinco, vestimos vermelho!
Depois de quatro edições, nas quais falei de gols de seleções (a brasileira e a holandesa) e do meu time de coração, o Flamengo, chegou a vez de falar de um gol de time europeu.
Para quem já me conhece, a escolha não poderia ser outra: teria que ser um gol do Liverpool Football Club! Mas por que um gol do clube vermelho da cidade mundialmente conhecida por conta do famoso quarteto John, Paul, George e Ringo? Para responder a essa pergunta preciso voltar no tempo, mais precisamente para o ano de 2005.
Nessa época, ainda na adolescência, mas já muito ligado nos jogos de futebol que passavam por aí, as competições europeias ainda soavam como algo muito distante para mim.
Pelo que me lembro, essas competições começaram a se popularizar mais aqui no Brasil a partir de uma lógica bastante “patriota”: times que tinham jogadores brasileiros como seus craques eram mais destacados pela imprensa e pelas transmissões daqui e não à toa o Real Madrid de Ronaldo e Roberto Carlos (e por um breve período de tempo também de Vanderlei Luxemburgo) e o Milan de Kaká, Dida, Cafu e Serginho eram os times mais falados e conhecidos.
Foi justamente esse Milan que chegou até a final da Liga dos Campeões de 2005 como o grande favorito para mais um título. Tudo que eu sabia até então sobre o adversário desta final, que na época não tinha nenhum brasileiro no elenco, era que se tratava de um grande campeão europeu de outrora, mas que naquele começo de século XXI andava meio mal das pernas.
Aquele jogo, contudo, despertou e muito o meu interesse em relação a esse time. Muito já se falou e se escreveu sobre aquele jogo. Conhecido como “o Milagre de Istambul”, aquela virada de um 3 x 0 contra ao final do primeiro tempo, para um título de Liga dos Campeões após a disputa de pênaltis entrou nas minhas jovens pupilas e no meu apaixonado coração de forma intensa. Não foi difícil escolher, desde então, acompanhar o time inglês da terra dos Beatles.
Apenas dois anos depois dessa histórica final de 2005, Liverpool e Milan se encontraram novamente em uma final de Liga dos Campeões, mas dessa vez o time italiano prevaleceu. Essa não foi a única derrota do Liverpool em grandes finais que acompanhei. Teve mais derrota em final de Liga dos Campeões em 2018 e 2022 (ambas para o Real Madrid), teve derrota em final de Liga Europa em 2015/16 para o Sevilla, teve um sofrido título inglês perdido em 2013/14, outro perdido por apenas um ponto em 2018/19…
Diante de todos esses reveses, não é exagerado aceitar a ideia, difundida no mundo do futebol e dos esportes em geral, de que são as derrotas que forjam de fato um torcedor. Só que ao lado de todas essas derrotas, muitas vitórias e títulos também vieram e um dos principais responsáveis por isso foi o técnico alemão Jürgen Klopp. Certamente uma das figuras mais cativantes do futebol das últimas décadas, Kloppão, como conhecido por alguns aqui no Brasil, se conectou de forma única com o time, a torcida e a cidade de Liverpool e o período dele no comando da equipe (2015-2024) foi o período em que eu também mais me aproximei do time.
Dos vários gols, lances e momentos que simbolizam a “Era Klopp” no Liverpool, o gol que escolhi para esse texto de hoje talvez seja um dos mais marcantes. Eu lembro bem de ver ao vivo, num notebook emprestado (alô, Renato da Lapa!), em meio a uma série de novas tarefas que compunham uma rotina que estava vivendo naquele ano de 2019: havia voltado a morar em Juiz de Fora há pouco mais de um ano, estava iniciando um emprego novo como professor, começando um novo relacionamento com a minha companheira, com quem tenho a alegria de compartilhar os dias até hoje e em meio a toda a vida que acontecia e pulsava no caos da Alameda Winston Churchill (nada mais inglês, não?), o Liverpool estava ali, com um futebol eletrizante, com aquela fagulha de esperança que insistia em ficar acesa mesmo nos momentos mais adversos.
Tomar 3 x 0 do poderoso Barcelona de Messi, Suárez e cia. e conseguir reverter isso no jogo de volta? Pouco provável, quase impossível, mas não para aquele Liverpool de Klopp. Com uma simbiose incrível com a torcida, o time ia na raça, ia na técnica, ia na sorte e misturando tudo isso havia chegado ali na metade do segundo tempo já com um 3 x 0 a favor no placar, resultado que levava a disputa para a prorrogação. Isso por si só já havia sido um feito e tanto, mas o time não se deu por contente.
Uma cria das categorias de base, o camisa 66 Trent Alexander-Arnold pegou a bola para bater o escanteio e num rápido e inesperado movimento, cruzou na área antes do que todo mundo esperava, já antevendo a ótima posição, praticamente sem marcação, em que se encontraria Divock Origi, o atacante amuleto de boa parte da Era Klopp, que com o pé direito colocou a bola no fundo das redes do Barça e deu ao Liverpool a classificação para uma final de Liga dos Campeões que seria novamente vencida, dessa vez em cima de um rival doméstico, o Tottenham.
Esse gol simboliza o ímpeto e a sagacidade que fazem parte de toda a história do Liverpool. Num país conhecido por costumes bastante elitistas, como o famoso chá das cinco que mencionei no título do texto de hoje, os Reds destacam-se por uma história de resistência ao lado do proletariado da cidade de Liverpool, com sérias críticas ao governo neoliberal de Margaret Thatcher, às calúnias do The Sun, dentre outros episódios que fui descobrindo ao conhecer cada vez mais a história e a alma do time de Kenny Dalglish, Bob Paisley, Graeme Souness e Steven Gerrard.
Enfim, esse gol carrega com ele muito das atitudes que procuro colocar em prática no cotidiano: estar atento aos sinais nos momentos decisivos, disposto a improvisar quando preciso e sempre, sempre apaixonado pela imprevisibilidade da vida.
Depois de esgotar o tempo regulamentar…
Para entender mais sobre esse lugar de crítica e contestação política do time e da cidade de Liverpool dentro do cenário inglês, vale a pena conferir esse vídeo produzido pelo canal Peleja:
Por hoje é só.
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R.