Aquele gol que eu escrevi #04
Quarta edição de uma newsletter de gols e outras coisas mais
Outro dia estava descobrindo como criar a minha própria newsletter, agora já cheguei ao fim do primeiro mês publicando! A “Aquele gol que eu escrevi” tem sido um respiro em meio à rotina, um exercício livre e descompromissado de escrita, um reconhecimento da importância do futebol dentro das minhas referências culturais.
Agradeço, mais uma vez, a todos os leitores que já chegaram até aqui! Amigos queridos e também pessoas que só tive contato por conta do Substack. Esta newsletter é um espaço para quem gosta de um futebol que vai além do óbvio, para quem adora comemorar um gol, mas que sabe: também é importante se debruçar sobre outras coisas mais.
Tentei escapar nas duas primeiras edições, mas a terceira e a quarta já comprovam: os anos 90 possuem um lugar especial no meu coração.
Bora pra mais um texto!
A elegância sutil do loiro
Infelizmente, eu não vi Bobô jogar. Do pouco que sei sobre a trajetória desse elegante jogador, consigo imaginar como deve ter sido mágico tudo o que ele proporcionou para a torcida do Bahia, em especial a conquista do título do Campeonato Brasileiro de 1988.
Aí o Caetano Veloso foi lá e fez o quê? Reparou não nos gols e resultados óbvios e objetivos, mas sim na elegância sutil do craque do seu time e eternizou isso em um dos versos de Reconvexo.
Não que eu tenha a ilusão de que Caetano um dia irá ler essas mal traçadas linhas, mas peço licença a esse que é um dos maiores artistas da história do Brasil para dar a essa quarta edição da newsletter um título que brinca com os citados versos sutis e elegantes.
A própria imagem da elegância, dos seus possíveis sentidos e significados, sempre foi muito atrelada, por mim, à figura do Caetano. A única oportunidade que tive de vê-lo ao vivo foi em um show dele no ano passado, aqui em Juiz de Fora, no magnífico Cine-Theatro Central. Para além das canções, da jovem e potente banda, do palco e do figurino sóbrios, da beleza e profundidade das letras, a elegância do bardo baiano foi um dos aspectos que mais me chamou a atenção.
Se levo essa ideia de elegância para dentro das quatro linhas, para gols e momentos que vi e vivi através do futebol, inevitavelmente esbarro em Dennis Bergkamp, o loiro de elegância sutil.
Dentre inúmeros lances e gols do holandês que podem ser encontrados por aí em vídeos na internet, esse gol contra a Argentina nas quartas-de-final da Copa de 98 é pra mim o melhor exemplo da categoria do loiro e também, é claro, da sua elegância.
Quando o pobre zagueiro argentino Ayala põe as mãos na cintura e abaixa a cabeça, logo depois de ver a bola entrar na rede, imagino que a sensação dele deve ter sido um misto de impotência, por não conseguir parar a genialidade de Bergkamp, mas também de admiração, como que se perguntando: como esse loiro pode fazer isso tudo?
A efusiva comemoração do camisa 8, se jogando no gramado do Vélodrome, de braços estendidos para o ar, é mais do que justa! Além da sutileza e elegância, aquele gol levou a Holanda para as semifinais daquela Copa, um outro confronto épico, mas que dessa vez acabou terminando em eliminação para os holandeses (Taffarel manda lembranças).
Em apenas três toques na bola, somados a uma inteligente e elegante movimentação corporal, o jogador holandês foi capaz de fazer um gol que atesta aquilo que muitas vezes, mesmo fora das quatro linhas, é possível perceber: tem horas que não é força, é jeito. Para além do lugar comum que esse chavão pode nos levar, penso nele como uma forma de reconhecer a necessidade de ampliar repertórios, saber bem o quê e quando usar cada uma das nossas potencialidades. É um exercício eterno, mas que bom poder executá-lo sempre!
Dizem que Bergkamp tem medo de avião. Nessa equação acredito que quem perde são os aviões. Se cearense fosse, talvez o ex-jogador pudesse ter vencido o medo segurando alguma mão, mas a genialidade dele talvez não tenha sido mesmo algo que todo mundo compreende.
Depois de esgotar o tempo regulamentar…
A indicação óbvia e necessária para esses acréscimos da edição de hoje é a newsletter do “Meu Time de Botão”, podcast da Central3 comandado por Leandro Iamin e Paulo Júnior, que se chama… Dennis Bergkamp no Vélodrome (dbnv). O nome da newsletter, enviada quinzenalmente para apoiadores do podcast, é uma clara menção ao jogo e ao gol comentados no texto de hoje.
Já tinha mencionado na edição anterior um episódio deste podcast que teve como tema principal o Roberto Carlos, autor do gol escrito na semana passada. Aproveito agora para falar um pouco mais sobre esse projeto que é uma clara inspiração para os meus textos.
Conheci o projeto tardiamente até, por volta do início de 2020, mas desde então acompanho assiduamente. Vez ou outra caço um episódio antigo para ouvir e quase sempre, além de relembrar e conhecer mais sobre o futebol em si, dou boas gargalhadas dos comentários ácidos e astutos da dupla, que possui uma química tão ou mais azeitada quanto aquela que existiu entre Bebeto e Romário na Copa de 94.
Por hoje é só.
Fica aquele apelo de sempre: leia, curta, comente, compartilhe, assine… Todo esse processo que ajuda bastante nesse universo virtual!
R.
só vejo mestres nesse texto.
"Dizem que Bergkamp tem medo de avião. Nessa equação acredito que quem perde são os aviões. Se cearense fosse, talvez o ex-jogador pudesse ter vencido o medo segurando alguma mão, mas a genialidade dele talvez não tenha sido mesmo algo que todo mundo compreende."
Maravilhoso! 👏👏👏